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segunda-feira, 31 de março de 2014

A operação de guerra que garantiu a posse de Jango com o parlamentarismo - Luis Nassif

Jango24_Brizola

Por volta de agosto de 1961, o ministro da Fazenda Clemente Mariani viajara para Punta Del Este, presidindo a delegação brasileira que iria discutir a Operação Pan-Americana e a Aliança para o Progresso. Foi na mesma ocasião em que o secretário de Estado norte-americano Douglas Dillon esteve de passagem por Brasília, encantando-se com Jânio. Ainda não se tornara público, mas Mariani estava demissionário, aguardando apenas que Jânio indicasse um substituto.

Depois do almoço no Horto Florestal, em São Paulo e dos serviços prestados a seu governo na negociação da dívida externa, Jânio Quadros e Pedroso D’Horta tornaram-se grandes amigos de Walther Moreira Salles.

Pedro D’Horta sabia da resistência do embaixador em aceitar um novo cargo público. Por isso, quase ao final do encontro de Punta Del Este, ligou para alerta-lo:

– Walther, na volta do Chile, o Clemente Mariani vai pedir demissão, devido a desentendimentos com o presidente. É quase certo que Jânio vá convida-lo para substitui-lo. E você já sabe como ele é persistente e teimoso. Se não quiser realmente ser ministro, e se sente incomodado com esses rumores, é melhor sair do Rio.

Na ocasião, corria o nome de Walther e o de Stelita Lins para o cargo.

O embaixador julgou melhor acatar o conselho, e foi com a família se esconder na fazenda Santo Aleixo, de Pedro di Perna, em Itatiba (SP).

Terminada a reunião de Punta Del Este, em vez de Mariani, foi o próprio Jânio quem surpreenderia o país, condecorando Che Guevara, trancando-se um fim de semana inteiro em um apartamento famoso no Rio, com a atriz Tônia Carrero, e renunciando em seguida.

Anos depois, o poeta Augusto Frederico Schmidt morreria no mesmo apartamento, quando declamava poemas para a mulher de um líder lacerdista.

Jango estava na China e havia enormes resistências à sua posse. Desembarcou direto em Porto Alegre onde seu cunhado Leonel Brizola já tinha deflagrado o Movimento pela Legalidade.

O embaixador permanecia na Santo Aleixo, acompanhando os acontecimentos pela imprensa. Como não avisara a ninguém de seu paradeiro, foi com surpresa que, certa manhã, recebeu a visita de Rubem Berta, presidente da Varig, que o descobrira graças a uma indiscrição da secretária de Pedro Di Perna.

– O presidente quer vê-lo – informou-lhe Berta.
– Qual presidente?, indagou o embaixador, ainda tão perplexo com a renúncia quanto o restante do país.
– O presidente Goulart.
– Terei muito prazer, assim que ele puder, porque sei que está isolado em Porto Alegre.

O embaixador conhecera Jango na época em que ambos mantinham grandes relações com o Banco do Brasil – o embaixador como diretor do BB, Jango como cliente assíduo da Carteira de Crédito Rural. Depois, ajudou a remover alguns obstáculos que poderiam atrapalhar sua posse na vice-presidência da República. Pouco antes da posse, alguns próceres do PTB foram informados que ele estava pendurado em um empréstimo junto ao Banco do Brasil, o que poderia dar margem a explorações políticas.

San Tiago ligou para o embaixador:

– Walther, Jango deve 15 milhões de cruzeiros ao Banco do Brasil. Você poderia emprestar dinheiro para ele cobrir-se junto ao banco? Depois, o BB te empresta de volta.

Os procedimentos bancários foram normais, com a mãe de Jango entregando ao Banco Moreira Salles uma carta oferecendo bens em hipoteca. O empréstimo acabou sendo pago normalmente. Mas o banco Moreira Salles não fez questão de cobrar a contrapartida. E, a bem, da verdade, nem Sebastião Paes de Almeida, presidente do BB à época, fez questão de lembrar a promessa feita.

O embaixador foi tirado de suas lembranças por uma declaração inesperada de Berta:

– Ele quer vê-lo hoje.
– Mas de que maneira?
– Estou encarregado de providenciar sua ida ao Rio Grande do Sul.
– Mas como será possível? – insistiu o embaixador.
– Disto eu me encarrego, com toda a segurança. Mas primeiro precisamos ir a São Paulo.

O embaixador conhecera Rubem Berta na época em que ocupou a embaixada de Washington. Na ocasião, acompanhou-o nas negociações para a compra e financiamento dos primeiros Boeings 707 da Varig, e aprendeu a admirar sua tenacidade e capacidade de trabalho.

– E quando voltamos de lá?
– Hoje mesmo.

Chegaram em São Paulo à 1 da tarde e foram direto ao hangar da Varig no aeroporto de Congonhas. Atendendo a um pedido de Berta, Perna, que os acompanhava, retornou sem entrar no hangar. Ao chegar, o embaixador foi apresentado a uma figura bonita, de porte militar.

– Este é o general Amaury Kruel.

No aeroporto, o embaixador deu-se conta de que a segurança prometida por Berta devia-se mais ao senso profissional com que comandantes acalmam passageiros em noite de tempestade, do que propriamente a uma análise objetiva da situação.

– Você não sabe o que aconteceu – disse-lhe Berta. Vamos ter de esperar cair a noite para partirmos, pois os voos para o sul foram proibidos.

Para driblar a proibição, armou-se um estratagema que consistia, primeiro, em aguardar a noite e fazer levantar voo um avião com destino ao norte do país. Apenas a tripulação estava autorizada a decolar. Na ponta da pista, o piloto alegaria defeito no fechamento da porta, para retornar ao hangar. Nesse momento, abriria a porta e os três – Walther, Berta e Kruel – atravessariam o pátio correndo e entrariam no avião, rezando para não serem percebidos.

O embaixador passou o resto do dia conversando com Kruel e Berta, tirando dúvidas sobre o sucesso da operação pega-avião e da resistência jango-brizolista.

O Rio Grande estava virtualmente isolado e a belonave necessitaria voar pela costa, para contornar a proibição de voos em direção ao sul. Eram três autênticos revolucionários, um deles, o embaixador, tão neófito em experiências do gênero, que Kruel julgou mais prudente que fosse na frente, na hora de embarcar.

– O senhor vai em primeiro lugar, pois se houver luz não haverá tempo de apanhá-lo. Eu, que tenho experiência, vou em seguida.

O embaixador relutou, mas não muito. Foi o primeiro a entrar, seguido de ambos. Partiram para Porto Alegre num DC3 voando de luzes apagadas, numa viagem demorada, que terminou no campo de aviação de Porto Alegre, iluminado por faróis de automóveis. Dali seguiram para o Palácio de Piratini, sede do governo estadual.

Kruel desapareceu na chegada e o embaixador foi conduzido por Rubem Berta à presença de Goulart. Eram 2 da manhã.

Jango explicou-lhe rapidamente sua estratégia para tomar posse:

– Estou aceitando a reforma da Constituição criando o parlamentarismo. Tancredo Neves será o primeiro ministro, e seu companheiro de viagem, general Kruel, o chefe da Casa Militar. E eu queria que o senhor fosse o ministro da Fazenda. Já conversei com Tancredo, que é seu amigo, e está de acordo.

O embaixador procurou objetar. Argumentou que haveria melhores nomes, sobretudo porque, com o parlamentarismo, o presidente teria que recorrer a nomes de partidos.

Jango não aceitou os argumentos:

– Não. O Ministério da Fazenda precisa ser ocupado por pessoa de absoluta confiança não apenas do primeiro ministro, mas também do presidente.

A confiança de Jango no embaixador decorria das inúmeras referências feitas a seu respeito por Vargas. O embaixador resistiu mais um pouco, mas foi demovido por um argumento definitivo:

– O senhor foi o negociador nos Estados Unidos do plano de estabilização do governo Jânio Quadros. Nós vamos continuar a observar todos os termos do plano e seu nome no ministério será a garantia junto às autoridades norte-americanas e ao mercado financeiro.

O ministro Walther Moreira Salles tornar-se-ia o principal avalista do acordo negociado pelo embaixador Walther Moreira Salles. O convite foi aceito. O embaixador entendeu que não aceita-lo significaria um desserviço ao país.

Terminada a conversa, o embaixador virou-se para Berta:

– Agora você vai me providenciar a volta para Campinas.

– Impossível, Walther. A FAB está com grande vigilância e nós não podemos correr o risco de perder um avião – declarou, com a objetividade típica de um aeronauta, que jamais se preocupa com detalhes.

– E eu dentro! – emendou o embaixador, lembrando que o detalhe era ele.

– Mas não se preocupe. Vou providenciar um avião para partir de madrugada para Buenos Aires. De lá você pega um voo de carreira internacional que pare no Rio, em São Paulo ou Campinas.

Inexperiente em manobras revolucionárias, o embaixador comportava-se como um turista acidental, que vislumbrava empecilhos intransponíveis à sua viagem.

– Agradeço, mas não tenho nem passaporte nem carteira de identidade. E nem dinheiro.

Goulart, que acabara de chegar da China, tinha dólares da viagem. Emprestou-lhe US$200,00. Brizola, que chegara com o cunhado, resolveu o problema da carteira de identidade. Em plena 4 da madrugada tiraram fotos que serviram para preparar a nova carteira de identidade.

Apesar das ideias de Brizola, que o embaixador considerava anacrônicas e superficiais, não havia como não admirar sua bravura e liderança. Que Kruel, que Machado Coelho, que nada! O comandante de fato da resistência era mesmo Brizola.

Avião levantou voo em pleno frio de agosto, levando um único passageiro enrolado em cobertores, dormindo nos bancos traseiros. Fez escala em Montevidéu e parou em Buenos Aires.

Para sua sorte, havia um voo da Alitália com destino a Roma, com escala em Campinas, que saía às 10 da manhã. O embaixador comprou escova de dente e o aparelho de barba e barbeou-se no próprio banheiro do aeroporto. E – para completar a incrível sucessão de fatos absolutamente inéditos na sua carreira, que aquele dia agitado lhe proporcionara – embarcou sem gravata.

Chegou a Campinas por volta da hora do almoço e entrou na fila em frente do guichê da Polícia Federal para a apresentação dos documentos. Na sua vez, o policial reconheceu-o:

– O senhor é o embaixador Moreira Salles.
– Sou eu, sim – respondeu o embaixador, seguro por fora, apreensivo por dentro.
– Mas seu retrato na identidade está fresquinho, molhado.

Quando o embaixador pensava que completaria ali seu curso intensivo de revolucionário – sendo detido –, o policial relaxou:

– Tudo bem. Acabo de ouvir pelo rádio que o senhor é o novo ministro da Fazenda, aprovado pelo Congresso em Brasília.

Jango havia conseguido emplacar seu gabinete, formado por um time do porte de Tancredo Neves, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Virgílio Fernandes Távora, San Tiago Dantas, o general Segadas Vianna no Ministério da Guerra e o brigadeiro Clóvis Travassos na Aeronáutica, Amaury Kruel no Gabinete Militar e Hermes Lima no Gabinete Civil. E as ondas hertzianas encarregaram-se de poupar o embaixador de um vexame.

O embaixador embarcou de Campinas para Itatiba, e já havia um sem-número de telefonemas de amigos cumprimentando-o. Os primeiros a falar com ele foram Horácio Lafer, Augusto Frederico Schmidt e Roberto Marinho. Pouco antes de sua chegada, um amigo exaltado cobriu de impropérios a senhora de Pedro Di Perna, não acreditando que o embaixador não estivesse em casa. Nenhuma novidade na malcriação: era o senador Arnon de Mello.

Sem contar a curta experiência revolucionária em 1932, quando foi parar na delegacia da paulista São João da Boa Vista por engano – por ter levado paulistas de Poços para São João – foi a única experiência revolucionária do nosso embaixador. Mais raro ainda: foi a única vez em que foi visto em público sem gravata.

A posse do gabinete deu-se em 8 de setembro de 1961. Para a aprovação desse Conselho de Ministros presidido por Tancredo Neves, votaram “sim” 259 congressistas e “não” 10 congressistas. Entre os presentes à cerimônia estava o deputado Raul Pilla, uma das figuras mais respeitáveis do Congresso, defensor intransigente do parlamentarismo. Era uma figura física impressionante, e de enorme integridade moral.

Mas nem a dimensão pública de Raul Pilla foi suficiente para convencer o embaixador de que o Brasil estava preparado para conviver com o parlamentarismo.

O TRÁFICO DE SERES HUMANOS - por Júlio Lázaro Torma


Um dos grandes males do mundo globalizado, ou da globalização sem fronteiras é o chamados tráfico de seres humanos, que pode acontecer em um país, estado e a nível global, de diferentes maneiras desde a escravidão de trabalhadores no campo, indústria e a sexual. Em que são submetidos crianças, homens, mulheres e adolescentes.

O tráfico de seres humanos é hoje segundo a ONU, a terceira atividade ilegal mais lucrativa que gera em torno de 32 bilhões de dólares anual, só perdendo para o tráfico de armas e de drogas. Sendo que 90%do TSH são de mulheres e crianças do sexo feminino, além do tráfico de órgãos.

O ser humano na lógica capitalista e da globalização neoliberal é segundo Karl Marx (1818-1883), "mercadoria", pois no " capitalismo tudo é mercadoria", o ser humano tem valor de mercado é visto como produto descartável.

Muitas pessoas traficadas são vítimas da pobreza, miséria, analfabetos, sem perspectiva de vida ou trabalho que caem no " conto" do gato ou do " traficante" e são traficadas para trabalhar nos paraísos de turismo sexual, casas noturnas, nos grandes centros urbanos ou em outros países como Portugal, Espanha, Israel, E. U.A, Japão e China.
Além de trabalhadores retrucados no sul para fazendas do Centro-Oeste,do Nordeste para a região amazônica ou indústrias do Sul ( Rio- São Paulo), onde são vítimas do trabalho escravo, sem direitos trabalhistas e vivendo em péssimas condições de moradias sem direito a uma alimentação digna.
No Brasil há diversas rotas de tráfico para a prostituição, de pedofilia, como de brancas de olhos azuis e verdes do sul para o sudeste ou nordeste, de nordestinas para os garimpos ou madeireiras da amazônia ou para o exterior, geralmente das regiões pobres (nordeste, amazônia e centro oeste), segundo dados oficiais sobre o tráfico sexual de mulheres, crianças e adolescentes até 2012, havia 214 rotas, sendo 110 relacionadas ao tráfico interno e 131, ao tráfico internacional.

O Brasil é um dos maiores exportadores de mulheres, principalmente de afrodescendentes, mulatas, chamadas de " produto nacional", " artigo exportação", entre 13 a 23 anos, ou brancas de origem européia do sul. Tal crescimento do tráfico é segundo um dono de bordel, em entrevista á revista Macleans, afirma:
"Vender mulher dá mais grana que vender arma ou droga.Porque droga e arma você só vende uma vez.Mulher você vai revendendo. Até ela morrer de AIDs, ficar louca ou se matar".

Ou com fala a gerente de uma agência de acompanhantes:"eu sou empresária, a mulher vale mais do que o homem neste negócio".

Podemos ver que a mulher é a principal vítima e perde a sua condição de ser humano e cidadã, onde se torna objeto de mercado e os bordeis empresas de fachada para lavar o dinheiro sujo do tráfico que beneficia as transnacionais do sexo e os grupos oligárquicos dos países e cidades pobres.
O TSH é a maior fonte de lucro das máfias, " triades chinesas, Yakuza (Japonesa), redes tailandesas, máfia russa, redes nigerianas, grupos da Ucrânia, Geórgia, Polônia e Albânia", sendo que no Brasil e América Latina agem as triades chinesas e a Yakuza que traficam mulheres para a Europa Ocidental e Japão.

Além de beneficiar campanhas eleitorais de partidos políticos liberais conservadores nos grotões do país e que faz com que a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da prostituição infantil, tráfico humano, esteja parada no Congresso Nacional, pois é sabido que muitos políticos estão envolvidos no tráfico e podem perder o seu poder e ser revelado as suas ligações com as máfias transnacionais da " escravidão moderna".

Assim como o tráfico de armamentos e drogas é exigido combate rigoroso das autoridades, o TSH é uma grave violação do ser humano e exige da sociedade formas rígidas para a sua erradicação e de uma vida digna para as suas vítimas.

O GOLPE - por Frei Betto*


São vivas minhas lembranças da quartelada de 1964. Desde 1962 eu trocara Belo Horizonte pelo Rio. Jânio Quadros, em agosto de 1961, havia renunciado à presidência da República. Jango, seu vice, tomou posse.

O Brasil clamava por reformas de base: agrária, política, tributária etc. No Rio Grande do Sul, o deputado federal e ex-governador daquele estado, Leonel Brizola, cunhado de Jango, advertia sobre o perigo de um golpe de Estado.

Em Pernambuco, Miguel Arraes contrariava usineiros e latifundiários e imprimia a seu governo um caráter popular. Em Angicos (RN), Paulo Freire gestava sua pedagogia do oprimido.

O MEB (Movimento de Educação de Base) dava os primeiros passos apoiado pela ala progressista da Igreja Católica. A UNE multiplicava, por todo o pais, os CPC (Centros Populares de Cultura).

Novo era o adjetivo que consubstanciava o Brasil: cinema novo; bossa nova; nova poesia; nova capital...

A luta heroica dos vietnamitas, o êxito da Revolução Cubana (1959) e o fracasso dos EUA ao tentar invadir Cuba pela Baía dos Porcos (1961) inquietavam a Casa Branca. “A América para os americanos”, reza a Doutrina Monroe. A maioria dos ianques não entende que está incluído no termo “América” todo o nosso Continente mas só eles são considerados “americanos”.

Era preciso dar um basta à influência comunista, inclusive no Brasil. E tudo que não coincidia com os interesses dos EUA era tachado de “comunista”, até mesmo bispos como Dom Helder Camara, que clamava por um mundo sem fome. Foi apelidado de “o bispo vermelho”.

Trouxeram dos EUA o padre Peyton, pároco de Hollywood. De rosário em mãos e bancado pela CIA, ele arrastava multidões nas Marchas da Família com Deus pela Liberdade. Manipulava-se o sentimento religioso do povo brasileiro como caldo de cultura favorável à quartelada.

A 13 de março de 1964, Jango promoveu um megacomício na Central do Brasil, no Rio, defronte o prédio do Ministério do Exército. Ali, ovacionado pela multidão, assinou os decretos de apropriação, pela Petrobras, de refinarias privadas, e desapropriação, para fins de reforma agrária, de terras subutilizadas. As elites brasileiras entraram em pânico.

Em 31 de março, terça-feira, as tropas do general Olimpio Mourão Filho, oriundas de Minas, ocuparam os pontos estratégicos do Rio. Jango, após passar por Brasília e Porto Alegre, deposto da presidência, refugiou-se no Uruguai. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu o comando do país e, pressionado pelos militares, convocou eleições indiretas. A 11 de abril, o Congresso Nacional elegeu o marechal Castelo Branco presidente da República. Estava consolidado o golpe.

A máquina repressiva começou a funcionar a todo vapor: Inquéritos Policiais Militares foram instalados em todo o país; a cassação de direitos políticos atingiu sindicalistas, deputados, senadores e governadores; uma simples suspeita ecoava como denúncia e servia de motivo para um cidadão ser preso, torturado ou mesmo assassinado.

Os estudantes e alguns segmentos da esquerda histórica resistiram nas ruas do Brasil. Foram recebidos a bala. A reação da ditadura acuou seus opositores na única alternativa viável naquela conjuntura: a luta armada. Em dezembro de 1968, o governo militar assina o Ato Institucional nº 5, suprimindo o pouco de espaço democrático que ainda restava e legitimando a prisão, a tortura, o banimento, o sequestro e o assassinato de quem lhe fizesse oposição ou fosse simplesmente suspeito. 

Muitos são os sinais de que se vivia sob uma ditadura. Este foi insólito: há no centro do Rio uma região conhecida como Castelo. E, na Zona Norte, um bairro chamado Muda (porque, outrora, ali trocavam as parelhas de cavalos que puxavam os bondes que ligavam a Tijuca ao Alto da Boa Vista).

Em 1964, no letreiro de uma linha de ônibus carioca a indicação: Muda-Castelo. Os milicos não gostaram: o marechal viera para ficar. Pressionada, a empresa inverteu o letreiro: Castelo-Muda. Ficou pior. Cancelaram a linha...

* Frei Betto é escritor, autor de “Cartas da Prisão” (Agir), entre outros livros.

Waldemir Jose propõe Comissão Especial para tratar dos nomes de logradouros e equipamentos públicos que homenageiam apoiadores da Ditadura Militar


No dia em que o Golpe Militar completa 50 anos, hoje (31), o vereador Waldemir José (PT) protocolizou requerimento solicitando da Câmara Municipal de Manaus (CMM) a criação de uma Comissão Especial para tratar, juntamente com a sociedade civil, da proposta de mudanças dos nomes de ruas, prédios públicos, bairros e monumentos históricos que homenageiam políticos ou autoridades que trabalharam ou deram sustentabilidade ao período da Ditadura Militar no Brasil.

Em seu pronunciamento, Waldemir José lembrou que muitas atrocidades foram cometidas pela Ditadura Militar contra aqueles que se opuseram a essa forma de governo: perseguições, assassinatos, sequestros, torturas exílios, além da censura à imprensa e à produção intelectual, segundo o parlamentar, foram algumas das retaliações arbitrárias praticadas pelo Regime Ditatorial.

“De acordo com a Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República, cerca de 480 pessoas morreram ou desapareceram por motivos políticos durante a Ditadura Militar. Isso é muito grave. Não podemos esquecer esse período triste e violento da nossa história”, argumentou o vereador petista.

Ainda de acordo com Waldemir José, no âmbito da economia brasileira, foi durante os Governos Militares que o país contraiu a dívida externa; foi o período que mais aumentou a desigualdade social; o crescimento da inflação chegou a 239% em 1980; aumento do índice desemprego, aumento da dependência externa, dentre outras situações econômicas que contribuíram para o não desenvolvimento do país.

Por esses e outros motivos que envolvem o Regime Militar, que o parlamentar acredita não ser justo que esses ditadores e apoiadores da ditadura que tanto mal fizeram ao país sejam homenageados e lembrados dando nome a logradouros e equipamentos públicos na cidade de Manaus. Sendo assim, se aprovada pela Câmara Municipal, a Comissão Especial poderá propor mudanças desses nomes, na tentativa de evitar que futuras gerações tomem esses personagens como heróis da história.

“Muitas cidades brasileiras estão revendo as homenagens dedicadas às pessoas que prestaram serviços para a Ditadura Militar, como é o caso da capital Salvador que realizou uma votação com alunos, professores, ex-alunos e pais para realizar a mudança do nome do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici para Carlos Marighella – guerrilheiro baiano. Em São Paulo, Fernando Haddad (PT) sancionou uma Lei que permite a troca do nome de ruas batizadas em homenagem a autoridades que tenham histórico de violação dos direitos humanos. O Poder Público dessa cidade tem o dever de corrigir esse erro”, concluiu Waldemir. 

Fonte: Assessoria de Comunicação

Nos 50 anos do golpe militar, Frei Tito é homenageado pelas Pastorais Sociais.


Nesta terça-feira, 1º de abril, em razão da data que marca os 50 anos do Golpe Militar no Brasil, as Pastorais Sociais, Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e organismos da Arquidiocese de Fortaleza, no Estado do Ceará, irão fazer uma celebração em homenagem ao religioso cearense Frei Tito, que militou em favor da democracia e defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar, sendo preso, cruelmente torturado, exilado e morto em 1974. A celebração ocorrerá em frente ao túmulo do frei dominicano, localizado no Cemitério São João Batista, às 16h. Durante o ato, participantes protestarão pela "Ditadura nunca mais” e está programada a leitura de uma declaração pela democracia no Brasil, apoiada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e pelo relato de Frei Tito.

A coordenadora da Pastoral do Povo da Rua, Fernanda Gonçalves, ressalta a importância de lembrar a luta de frei Tito nessa data emblemática dos 50 anos do Golpe Militar; e com Francisco Vladimir, membro da equipe da Articulação das Pastorais Sociais, que destacou que assim como as Pastorais Frei Tito militou em defesa dos direitos humanos e por isso merece que sua trajetória de luta seja lembrada.

O Golpe Militar deu início a um período de ditadura que durou 21 anos. Repressão, censura, torturas e mortes marcaram o período conhecido como "anos de chumbo” no Brasil. Muitos militantes como Frei Tito foram presos e torturados, e tantos outros foram mortos durante o regime.

Sobre Frei Tito

Nasceu em Fortaleza, no dia 14 de setembro de 1945. Filho de Ildefonso Rodrigues Lima e Laura Alencar Lima. Estudou no Colégio Estadual do Ceará (Liceu do Ceará). Participou da Juventude Estudantil Católica (JEC), ala jovem da Ação Católica. Em 1963, eleito dirigente regional da JEC (Maranhão a Bahia), com sede em Recife, Estado de Pernambuco. Em 1964, participou das primeiras reuniões e manifestações estudantis contra a ditadura militar. No início de 1966, ingressou no noviciado dos dominicanos, em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais. Em 10 de fevereiro de 1967, fez a profissão simples dos votos e foi residir no Convento das Perdizes para estudar Filosofia na Universidade de São Paulo (USP).

Em 1968, foi preso durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, Estado de São Paulo, com todos os congressistas. Em novembro de 1969, foi preso novamente, com Frei Betto e outros religiosos. Foi torturado ininterruptamente durante três dias pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, chefe do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS).

Em dezembro de 1970, foi incluído entre os prisioneiros políticos trocados pelo embaixador suíço, Giovani Enrico Bücker, sequestrado pelo comando da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Em 1971, foi para Roma, Itália, e, em seguida, para Paris, França, onde foi acolhido no convento Saint Jacques.

Em 10 de Agosto de 1974, foi encontrado morto em uma área do Convento de Lyon. Somente em março de 1983, com a abertura política, seus restos mortais retornaram ao Brasil. Acolhidos em solene liturgia na Catedral da Sé, em São Paulo, encontram-se hoje enterrados no cemitério São João Batista, em Fortaleza.

Mercado Ver-o-peso, de Belém, comemorou 387 anos com açaí, peixe frito e tacacá.


Inaugurado no dia 27 de março de 1627, o Ver-o-Peso é um complexo com quase 30 mil metros quadrados de área, por onde circulam 50 mil pessoas por dia. De acordo com o Dieese, cerca de 5 mil feirantes trabalham no mercado, que é um dos principais cartões postais de Belém/PA. O mercado comercializa aproximadamente 30 toneladas de açaí e 144 toneladas de peixe por ano. O comércio de frutas, verduras, legumes em suas barracas injeta cerca de R$ 1,3 milhão por dia na economia de Belém.


O Mercado Ver-o-Peso está localizada na travessa Boulevard Castilho Franca, Cidade Velha, às margens da baía do Guajará. Ponto turístico e cultural da cidade, é considerada a maior feira ao ar livre da América Latina. O mercado do ver-o-peso abastece a cidade com variados tipos de gêneros alimentícios e ervas medicinais do interior paraense, fornecidos principalmente por via fluvial. Foi candidato a uma das 7 Maravilhas do Brasil.



Reabertura do Tacacá na Bossa: programação de abril.

Às quartas-feiras, defronte ao Tacacá da Gisela, no Largo de São Sebastião, centro de Manaus.

Dia
Hora
 Apresentação
2/4
19h
Nícolas Júnior e Nilson Chaves
9/4
19h
 Black Cold : Tributo a Legião Urbana
23/4
19h
Banda AlaídeNegão
30/4
19h
Zezinho Corrêa

domingo, 30 de março de 2014

'Fantástico' mostra políticos e empresários de Manaus em esquema de prostituição

Waldery Jr, Waldery Areosa e Fausto Souza foram mostrados no programa como participantes do esquema
Deputado estadual Fausto Souza, e os empresários Waldery Areosa e Waldery Areosa Júnior foram alguns dos citados na reportagem do programa da Globo.


O Amazonas foi novamente destaque em uma matéria do programa Fantástico, da Rede Globo, sobre exploração sexual de crianças e adolescentes, neste domingo. Desta vez, a reportagem abordou as investigações da Operação Estocolmo, deflagrada em novembro de 2012, em Manaus.

Com gravações telefônicas, filmagens e depoimentos, o programa mostrou o envolvimento de políticos e empresários do Amazonas com exploração sexual crianças e adolescentes. Um dos apontados foi o deputado estadual Fausto Souza (PSD) que, de acordo com a reportagem do Fantástico, pagou por um programa sexual com uma adolescente de 16 anos em um motel de Manaus.

O programa mostrou uma conversa entre o deputado e um agenciador identificado apenas como ‘Pablo’. Em seguida, o Fantástico mostrou uma imagem de um carro de Fausto, no qual, de acordo com o programa, também estava a adolescente contratada para fazer um programa sexual por R$ 100.

O empresário Waldery Areosa Ferreira e o filho dele, Waldery Areosa Júnior também foram denunciados na reportagem por participação do esquema de exploração sexual. Em depoimento, uma das testemunhas não identificada pelo Fantástico cita que o empresário tem preferência pelas meninas mais novas.

Outro acusado é o ex-prefeito de Jutaí, Asclepíades de Souza, que, de acordo com o Fantástico, além de participar da exploração sexual também é acusado de desvio de recursos públicos.

Também apareceu na reportagem, o ex-consul honorário da Holanda em Manaus, Vitório Nyenhuis. Na matéria, o Consul demonstra preocupação com um a possível gravidez de uma menor de idade.

O programa mostrou, ainda, como as menores eram aliciadas para o esquema de exploração sexual. Geralmente, as menores são de bairros pobres de Manaus e recebem ofertas de dinheiro fácil.

Todos os advogados dos acusados ouvidos pela reportagem negaram participação no esquema de exploração sexual de menores de idade.

Em janeiro, o programa Fantástico apresentou uma série de reportagem sobre denúncias de pedofilia envolvendo o prefeito de Coari, Adail Pinheiro. Após as reportagem, o prefeito de Coari foi preso em 08 de fevereiro por determinação do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM).

No dia 12 deste mês, a Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE) decidiu adiar para depois da eleição de outubro a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar casos de pedofilia no Amazonas. Os parlamentares argumentaram que já uma CPI, a da Telefonia, em andamento na Casa, o que prejudicaria o andamento de outra investigação. Outro argumento foi de que os trabalhos da comissão, se fosse criada, terminaria em julho, já no período eleitoral.

Operação

A Operação Estocolmo foi deflagrada pela Polícia Civil e cumpriu oito mandados de prisão, todos em residências em condomínios de luxo, na zona oeste de Manaus. A Polícia Federal (PF) participou da ação porque um dos investigados ocupava o cargo de cônsul. Durante a operação, foram recolhidas mais de mil mídias de CDs e DVDs, além de computadores e câmeras fotográficas. A investigação identificou que pelo menos 30 adolescentes, com idades entre 13 e 17 anos, eram aliciadas e agenciadas na rede.

No dia 28 de janeiro deste ano, o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) aceitou denúncia apresentada pela Polícia Civil e tornou réus as 20 pessoas envolvidas na operação Estocolmo. A denúncia foi aceita por unanimidade entre os desembargadores do Pleno do Tribunal que votaram. Apenas os desembargadores João Simões e Djalma Martins se averbaram impedidos de julgar a denúncia por motivo de ‘foro íntimo’. O presidente do TJAM, desembargador Ari Moutinho, alegou impedimento para não presidir a sessão.

Em fevereiro, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes da Câmara dos Deputados esteve em Manaus para ouvir os acusados da Operação. 

Vejam a lista dos 20 envolvidos:
  1. Asclepíades de Souza;
  2. Aldamor Rodrigues;
  3. Anílson Jaime Rodrigues;
  4. Casemiro Peixoto Vieira;
  5. Fausto  de Souza Neto;
  6. Francisco Ferraz Feitoza;
  7. Janaína Tomaz Ribeiro;
  8. Jian Marcos Dalberto;
  9. José Roberto Afonso;
  10. Luciana Canoe Silva;
  11. Oscar Cruz Hagge;
  12. Pablo Thiago Gomes;
  13. Paulo Sérgio Montenegro;
  14. Raimundo Sales Pedrosa;
  15. Tayla Silva de Souza;
  16. Vitório Nyenhuis;
  17. Walcimar de Souza;
  18. Waldery Areosa Ferreira;
  19. Waldery Areosa Júnior; e
  20. Wilkens Maciel Fernandes.
Fonte: http://www.d24am.com/noticias/amazonas/fantastico-mostra-politicos-e-empresarios-de-manaus-em-esquema-de-prostituicao/109255

50 anos de golpe: Nos idos de cinquenta marços - por Rui Daher*

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Na terça-feira, dia 31, cientes de que o general Olímpio Mourão Filho movimentava suas tropas em direção ao Rio, os padres suspenderam as aulas. Tremi. A serpente do golpe civil-militar deixara o ovo.

Começo por entregar a idade. Em 31 de março de 1964, tinha 18 anos. Só eu sei quantas vezes ainda iria me entregar depois daquele dia, na contramão do acordo de elites que nunca nos permitiu vivenciar um país menos desigual.

O ano letivo acabara de começar no Colégio de São Bento, em São Paulo. No final, eu receberia o diploma do “científico”, “colegial”, que assim era como não mais o é.

Onze anos de ensinamentos dos padres beneditinos alemães, faziam-me perceber que Jesus e o Evangelho não eram bem compreendidos no Brasil.

Mais grandinho, um termo impróprio para a minha altura, desprezava logaritmos, formas geométricas e cromossomos. Preferia devorar os autores franceses Teilhard de Chardin (1881-1955), Merleau-Ponty (1908-1961), e os brasileiros Alceu de Amoroso Lima (1893-1983) e Caio Prado Júnior (1907-1990).

Daí até participar da JEC (Juventude Estudantil Católica), da UPES (União Paulista dos Estudantes Secundários), reuniões, passeatas, filmes do russo Sergei Eisenstein (1898-1948), Chico Buarque cantando “Pedro Pedreiro” em colégios da elite paulistana, foi um pulo. Pronto! Pertencia ao movimento estudantil.

A Campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola depois da renúncia de Jânio Quadros, em 1961, ajudou a garantir a posse do vice-presidente João Goulart. Alvíssaras! O caminho para as reformas sociais parecia iluminado. Houvesse ruptura, venceríamos.

Desde 1962, no entanto, em regime parlamentarista de araque, logo rejeitado em plebiscito, as situações política e econômica vinham se deteriorando. Sindicatos de trabalhadores, ligas camponesas e entidades estudantis confrontavam a oligarquia rural, os industriais paulistas e os Estados Unidos.

Naquela época, em São Paulo, tínhamos a Rádio Marconi. À exceção do jornal Última Hora, de Samuel Wainer, e do Correio da Manhã, no Rio de Janeiro, a emissora era a única favorável ao governo. Tanto que combateu o golpe até ser fechada, em 1967.

No dia 13, uma sexta-feira, eu passara toda a tarde colado ao rádio ouvindo a transmissão do Comício da Central, no Rio de Janeiro. Cada discurso me fazia vibrar. Mais de 150 mil pessoas reunidas para ouvir sindicalistas, políticos, e o presidente anunciar reformas que mexeriam com os estratos conservadores do País.

Pressenti bronca pela frente.

Seis dias depois, como réplica, arregimentadas pelos setores golpistas, milhares de pessoas saíram às ruas, em São Paulo e outras capitais, na Marcha da Família com Deus pela Liberdade.

Mais seis dias, e veio tréplica. Quase 3 mil marinheiros se reuniram em assembleia, no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, com reivindicações da tropa e em apoio às reformas de base.

À ordem de prisão dos insurgentes, dada pelo general do Exército e ministro Sylvio Frota, se contrapôs o contra-almirante Cândido Aragão. Era a hierarquia militar ameaçada com a cucuia.

O pressentimento virou certeza. A bronca seria o golpe de Estado.

No dia 29, domingo de Páscoa, fiquei com meus pais. Não lembro se ganhei ovos de chocolate. Gordinho e espinhento, eles me restringiam essa gula. Se não os ganhei, é provável tê-los comprado.

Na terça-feira 31, cientes de que o general Olímpio Mourão Filho movimentava suas tropas de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro, para gáudio da maioria de meus colegas, os padres suspenderam as aulas.

Tremi. A serpente do golpe civil-militar, que por muitos anos se disfarçaria de revolução, deixara o ovo.

Nos dias e anos seguintes, tudo girou entre sobreviver, formar família, e aperfeiçoar os ideais conquistados antes de março de 1964. Nos lugares onde estive, nos empregos que aceitei, nas livrarias e cinemas frequentados.

Os fotogramas desses cinquenta anos correram rápidos. Não poucas vezes se fragmentaram e tiveram que ser remontados.

A morte de meu pai, um ano depois; desistência do vestibular para medicina; primeiro emprego como estoquista de uma serraria da família Maluf; curso de administração de empresas na FGV, onde poucos eram os amigos de esquerda; casamento, filhos, prestação do BNH; o salário crescendo e a burguesia mostrando seus encantos.

Os micróbios pré-1964, no entanto, persistiam nos fotogramas.

Trabalhar durante o dia numa fábrica de tintas, em Guarulhos, e estudar Ciências Sociais, à noite, na USP, para aprender a ler Marx, Trotsky e Gramsci; centenas de livros comprados nas livrarias Avanço e Kairós; a emoção das Diretas-Já; o Brasil novamente naufragando; o círculo social se ampliando com burocratas reacionários e uns poucos que relutavam em voltar de Woodstock.

Quase quarenta anos trabalhando em setores do agronegócio, me fizeram ser empregado, executivo, sócio, de pessoas que aderiram ou participaram dos governos militares. De muitos, gosto e fiquei amigo. A outros, respeito.

Deles, nunca escondi minhas posições. Recebo respeito e alguma incredulidade.

Ao me propor este texto, o site de CartaCapital pergunta: “De que maneira aquele dia que instalou a ditadura mudou sua vida, sua forma de pensar e agir”? Mudou?

Quem me lê sabe que não.

*Rui Daher é colunista do site de Carta Capital. Seu relato é parte de uma série de 50 depoimentos coletados para o especial Ecos da Ditadura, que lembra os 50 anos do golpe militar.

Sobre o silencio dos militares - Miriam Leitão


A cada nova confissão de um militar da reserva, como a do coronel Paulo Malhães, fica mais pesado o silêncio dos militares. A omissão não é apenas desrespeitosa; ela é significativa. O silêncio fala, se acumplicia, abona o que foi feito no passado. Em outros países da América Latina, as Forças Armadas reconheceram seu erro. É essencial para limpar o travo do passado.

O ministro da Defesa fez uma defesa inepta desse silêncio. Disse que é outra geração e que o Estado já pediu desculpas. Celso Amorim é inteligente demais para não ter entendido que o silêncio é deliberado e nasce do pacto entre gerações. Mesmo os da ativa estão convencidos de que Exército, Marinha e Aeronáutica fizeram tudo certo. Eles usam a loquacidade dos que estão na reserva para expressar o que realmente pensam.

Amorim diz que as Forças Armadas de hoje nada “têm a ver com aquilo”. Até outro dia comemoravam o sinistro 31 de março; emitiram notas em passado recente defendendo tortura; ensinam nos colégios militares a versão de que salvaram o país; fizeram a mais eloquente linguagem corporal que podiam no dia da instalação da Comissão da Verdade. O ministro sabe exatamente o que já ouviu em certas reuniões. Conhece as omissões e ouviu mais silêncios do que os outros brasileiros, e tem noção de que eles não colaboram no resgate do passado porque não querem. Que o ministro da Defesa não se coloque como biombo e ajude o país a levar as instituições ao comportamento adequado.
Não se quer humilhar as Forças Armadas, mas apenas romper a barreira do silêncio com a qual eles mantêm fortes os vínculos com as outras gerações que levaram as instituições militares a permitir o inaceitável.

Naquela época não existia DNA, concorda comigo? Então quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que, se acharem o corpo, podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária e digitais, só. Quebravam os dentes e cortavam os dedos. As mãos, não. E aí se desfazia do corpo — contou o coronel Paulo Malhães, que trabalhava no Centro de Informação do Exército.
Ele atuou, junto com outros militares, na Casa da Morte, da qual se soube pelo heroísmo de Inês Etienne. Ela escapou com vida de um aparelho de extermínio montado pelo Exército, jamais descansou no esforço para informar o país a que ponto extremo chegou a instituição. São fartas as provas de que os torturadores não eram uma facção, mas obedeciam a uma cadeia de comando.

Todos sabemos dos serviços prestados ao país pelas Forças Armadas nos dias de hoje. Neste exato momento estão novamente sendo convocadas para socorrer o Rio de Janeiro na busca da unificação da cidade que o tráfico de drogas partiu. Do Rio à Amazônia há exemplos fortes do seu papel eficiente para fazer o país avançar. Isso, no entanto, não exime as Forças Armadas de reconhecer os erros da instituição quando implantaram no país o regime de força.

As indenizações de nada serviram. As desculpas apresentadas por governos civis lideradas por pessoas que estavam na oposição não substituem a obrigação das Forças Armadas de dizerem ao país onde foi que erraram.

Os pensadores e analistas vão ajudar a compor a narrativa completa do golpe que teve também apoiadores civis. Nada, no entanto, encobrirá o fato de que, dentro das instalações das Forças Armadas, brasileiros foram presos, torturados e mortos. Em alguns casos, nem os corpos voltaram para as famílias.

Não se quer vingança contra as Forças Armadas. Eles precisam repudiar esse passado porque é assim que se constrói um país e se fortalecem a democracia, as instituições. No silêncio, uma geração vira cúmplice da outra. O silêncio os condena e nos ameaça

Praciano participa da entrega de maquinário agrícola em Presidente Figueiredo


O deputado federal Francisco Praciano (PT-AM), participou na manhã de ontem (29), no município de Presidente Figueiredo (distante 107 km de Manaus), da entrega de um conjunto de equipamentos e máquinas agrícolas que deverão auxiliar no audacioso projeto de piscicultura em andamento no município.

Resultado de EMENDA PARLAMENTAR do deputado, o kit contém uma retroescavadeira, um rolo compactador, três tratores agrícolas com grade e arador e uma escavadeira, avaliados em R$ 1 milhão, e outros R$ 230 mil de contrapartida da prefeitura local.

“ Vamos abrir novos tanques escavados e mecanizar a nossa agricultura, colocando Presidente Figueiredo entre os maiores produtores de peixes em cativeiro do Amazonas”, comemorou o prefeito, lembrando que “até o final deste ano, mais de 300 hectares de lâminas dágua vão assegurar mais de 18 mil quilos de pescado produzidos em tanques e beneficiando mais de 600 famílias”, disse Neílson Cavalcante.

Recursos para a saúde

Deputado federal com intensa atuação na terra das cachoeiras, Praciano anunciou, ainda, a aprovação de outro um milhão de reais que serão destinados a reforma e ampliação do hospital municipal.” Os produtores rurais podem comemorar, pois além desse maquinário, estou colocando outro recurso, no mesmo valor, só que agora para a recuperação e ampliação do hospital”, anunciou o deputado. Uma policlínica, uma sala para atendimento exclusivos às mães gestantes e uma nova cobertura no hospital estão na programação para esse novo recurso, adquirido através também de emenda parlamentar de Praciano.

Fonte: Assessoria de imprensa

Empresários que apoiaram o golpe de 64 construíram grandes fortunas


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Com mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo sobre os empresários e o golpe de 64 e em fase de conclusão do doutorado sobre os empresários e a Constituição de 1988, o professor Fabio Venturini esmiuçou os detalhes de “como a economia nacional foi colocada em função das grandes corporações nacionais, ligadas às corporações internacionais e o Estado funcionando como grande financiador e impulsionador deste desenvolvimento, desviando de forma legalizada — com leis feitas para isso — o dinheiro público para a atividade empresarial privada”. Segundo o pesquisador, é isto o que nos afeta ainda hoje, pois os empresários conseguiram emplacar a continuidade das vantagens na Carta de 88.

Venturini cita uma série de empresários que se deram muito bem durante a ditadura militar, como o banqueiro Ângelo Calmon de Sá (ligado a Antônio Carlos Magalhães, diga-se) e Paulo Maluf (empresário que foi prefeito biônico, ou seja, sem votos, de São Paulo). Na outra ponta, apenas dois empresários se deram muito mal com o golpe de 64: Mário Wallace Simonsen, um dos maiores exportadores de café, dono da Panair e da TV Excelsior; e Fernando Gasparian. Ambos eram nacionalistas e legalistas. A Excelsior, aliás, foi a única emissora que chamou a “Revolução” dos militares de “golpe” em seu principal telejornal.

Sobre as vantagens dadas aos empresários: além da repressão desarticular o sindicalismo, com intervenções, prisões e cassações, beneficiou grupos como o Ultra, de Henning Albert Boilesen, alargando prazo para pagamento de matéria prima ou recolhimento de impostos, o que equivalia a fazer um empréstimo sem juros, além de outras vantagens. Boilesen, aliás, foi um dos que fizeram caixa para a tortura e compareceu pessoalmente ao DOI-Codi para assistir a sessões de tortura. Foi justiçado por guerrilheiros.

Legenda: Brilhante Ustra recebia visitas de empresários durante as sessões de tortura e assassinatos nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo.

Outros empresários estiveram na mira da resistência, como Octávio Frias de Oliveira, do Grupo Folha, que apoiou o golpe. Frias e seu sócio Carlos Caldeira ficaram com o espólio do jornal que apoiou João Goulart, Última Hora, além de engolir o Notícias Populares e, mais tarde, ficar com parte do que sobrou da Excelsior. Porém, o que motivou o desejo da guerrilha de justiçar Frias foi o fato de que o Grupo Folha emprestou viaturas de distribuição de jornal para campanas da Operação Bandeirante (a Ultragaz, do Grupo Ultra, fez o mesmo com seus caminhões de distribuição de gás). Mais tarde, a Folha entregou um de seus jornais, a Folha da Tarde, à repressão.

– Se uma empresa foi beneficiada pela ditadura, a mais beneficiada foi a Globo, porque isso não acabou com a ditadura. Roberto Marinho participou da articulação do golpe, fez doações para o Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes, que organizou o golpe). O jornal O Globo deu apoio durante o golpe. Em 65, o presente, a contrapartida foi a concessão dos canais de tevê, TV Globo, Canal 4 do Rio de Janeiro e Canal 5 São Paulo – disse Fabio Venturini.

Globo lucrou

Ainda segundo o pesquisador, “na década de 70, porém, a estrutura de telecomunicações era praticamente inexistente no Brasil e foi totalmente montada com dinheiro estatal, possibilitando entre outras coisas ter o primeiro telejornal que abrangesse todo o território nacional, que foi o Jornal Nacional, que só foi possível transmitir nacionalmente por causa da estrutura construída com dinheiro estatal. Do ponto-de-vista empresarial, sem considerar o conteúdo, a Globo foi a que mais lucrou”.

Já que em 1985, no ocaso da ditadura, “Roberto Marinho era o dono da opinião pública”, acrescentou o professor.

Segundo Fabio Venturini, na ditadura imposta a partir de 1964 os militares se inspiraram na ditadura de Getúlio Vargas. Lembra que, naquela ditadura, o governo teve vários problemas para controlar um aliado, o magnata das comunicações, Assis Chateaubriand.

“No golpe de 64 o Assis Chateaubriand já estava doente, o grupo Diários Associados estava em decadência. O Roberto Marinho foi escolhido para substituir Assis Chateaubriand. Tinha o perfil de ser uma pessoa ligada ao poder. Tendo poder, tendo benefício, ele estava lá. A Globo foi pensada como líder de um aparato de comunicação para ser uma espécie de BBC no Brasil. A BBC atende ao interesse público. No Brasil foi montada uma empresa privada, de interesse privado, para ser porta-voz governamental. Se a BBC era para fiscalizar o Estado, a Globo foi montada para evitar a fiscalização do Estado. Tudo isso tem a contrapartida, uma empresa altamente lucrativa, que se tornou uma das maiores do mundo [no ramo]”, afirma.

Venturini fala, ainda, em pelo menos dois mistérios ainda não esclarecidos da ditadura: os dois incêndios seguidos na TV Excelsior, em poucos dias, e a lista dos empresários que ingressaram no DOI-Codi para ver sessões de espancamento ou conversar com o comandante daquele centro de torturas, Carlos Alberto Brilhante Ustra. Ele comenta a tese, muito comum na Folha de S.Paulo, de que houve um contragolpe militar para evitar um regime comunista, o que chama de “delírio”.

Venturini também fala do papel de Victor Civita, do Grupo Abril, que “tinha simpatia pela ordem” e usou suas revistas segmentadas para fazer a cabeça de empresários, embora não tenha conspirado. Finalmente, explica a relação dos empresários com as nuances da ditadura pós-golpe. Um perfil liberal, pró-americano, em 64; um perfil “desenvolvimentista”, mais nacionalista, a partir de 67/68.

50 anos do golpe: Dilma não vai aceitar celebrações militares


Após 50 anos, o golpe militar de 31 de março de 1964 é uma lembrança a cada dia mais tênue na memória nacional, mas também uma história sem ponto final que ainda hoje contamina com rancor e ódio o ambiente político. O conflito é particularmente visível na relação do atual governo com as Forças Armadas, sobretudo com militares da reserva, e na Comissão Nacional da Verdade, criada em 2011 para investigar e esclarecer o que ocorreu com 153 militantes de esquerda desaparecidos durante a ditadura militar (1964-1985).

Antecipando-se a eventuais celebrações, o governo tomou providências para evitar uma nova crise com o meio militar, como se deu em 2012 e 2013 por ocasião do aniversário de 31 de março. Por orientação da presidente Dilma Rousseff, uma ex-combatente da luta armada contra o regime dos generais, o ministro da Defesa, Celso Amorim, chamou os comandantes militares e passou o recado: o governo não vai tolerar manifestações do pessoal da ativa. As punições podem ir da simples advertência à prisão e exclusão das Forças Armadas.

Amorim recebeu a garantia dos chefes militares de que não haverá nada de iniciativa do pessoal da ativa. A rigor, desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o 31 de março foi banido do calendário de comemorações militares, o que nem sempre impediu um ou outro oficial de levantar a voz para fazer a apologia da “Redentora” – o apelido da “Revolução de 31 de março de 1964”, como se referiam ao golpe os militares e civis que apoiaram a deposição do ex-presidente João Belchior Marques Goulart (1961-1964). Atualmente, os bolsões que combatem o governo do PT falam em “contrarrevolução”.

O Palácio do Planalto também autorizou “conversas do alto escalão” das Forças Armadas com o pessoal da reserva reunido em torno dos clubes militares. O mais importante deles é o do Exército, chamado de Clube Militar – a Casa da República. Há um “entendimento” para que a “Casa” evite se manifestar. Realisticamente, no entanto, na avaliação do Ministério da Defesa o simbolismo da data – os 50 anos – é muito forte: o pessoal da ativa e até o Clube Militar, eventualmente, podem ser mantidos sob rédea curta. Mas dificilmente o grupo mais radical – ligado aos porões da repressão – deixará de celebrar o 31 de março.

No que se refere ao pessoal da ativa, o governo aplicará as punições previstas nos regulamentos das Forças Armadas. Em relação aos grupos mais radicais da reserva, especialmente aqueles ligados ao esquema de repressão do regime, o governo avalia que não tem muito o que fazer. A decisão de punir dependerá do tom da comemoração. Afinal, a mesma Constituição contra a qual se puseram os militares da linha-dura lhes garante hoje o direito de expressão.

O que o Palácio do Planalto não pretende deixar passar é a quebra da hierarquia, como ocorreu em 2012, ano em que foi instalada a Comissão da Verdade. O Ministério da Defesa tem pareceres jurídicos segundo os quais os comandantes têm poderes para punir também o pessoal da reserva.

Os vários grupos que convocaram a reedição da Marcha da Família com Deus, em Defesa da Liberdade – movimento civil que foi uma espécie de escalão precursor do golpe de 1964 – devem receber o mesmo tratamento dado aos manifestantes que vêm ocupando as ruas do país desde junho. Algumas dessas convocações, porém, têm um componente explosivo: estão marcadas para sair da porta dos quartéis.

A presidente Dilma Rousseff estava do lado que perdeu em 1964. Integrante de grupos armados de combate ao regime, foi presa e torturada nos porões da ditadura. Em seu discurso de posse na Presidência, fez um gesto de conciliação: “Não carrego, hoje, nenhum ressentimento nem nenhuma espécie de rancor”, disse. “A minha geração veio para a política em busca da liberdade, num tempo de escuridão e medo.”